Há risco de o erro virar regra. Primeiro, o aceno ordenando parar. Distraído, o técnico em manutenção Francisco das Chagas de Oliveira, que voltava de um trabalho na companhia do filho no domingo passado, continuou a guiar a moto. Não ter acatado o sinal do policial militar foi o suficiente para que o soldado sacasse uma arma, em plena rua de Fortaleza (CE), e atirasse na nuca de Bruce Cristian, que estava na garupa.
A morte do garoto de 14 anos, provocada por quem é pago pelo Estado para oferecer proteção, não é caso isolado. Quase 400 pessoas foram assassinadas no Brasil pelas polícias Militar e Civil em 2008, base mais atualizada do Sistema de Informações de Mortalidade do Ministério da Saúde. Os óbitos são classificados como “intervenção legal”. Ocorreram enquanto o policial tentava deter quem infringia a lei. Rio de Janeiro e São Paulo respondem juntos por 323 dos 398 óbitos notificados em 2008.
A falta de preparo dos agentes, a ausência de punição e a nomenclatura com que as mortes são registradas são o que mais contribui para a impunidade, dizem especialistas. “Temos nesse balanço casos de execução nomeados como intervenção legal”, critica Sandra Carvalho, da ONG Justiça Global.
Embora o policial cearense que matou Bruce Cristian tenha dito, em depoimento, ter se tratado de um disparo acidental, a corporação do Estado reconheceu a operação como “desastrosa”. Polícias Civil e Militar tiraram a vida de quase 400 brasileiros em 2008.
Fonte: Jornal A Notícia, n. 843, Joinville, 1 de agosto de 2010, coluna AN País, p. 15.
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